1969, óleo sobre tela
Gerhard Richter, pintor alemão nascido em Waltershofen (1932), orientado tanto para o foto-realismo como para a Pop Art
"Se eu fosse pintor passava a minha vida a pintar o pôr do sol à beira-mar. Fazia cem telas todas variadas, com tintas novas e imprevistas. É um espectáculo extraordinário.
Há-os em farfalhos, com largas pinceladas verdes. Há-os trágicos, quando as nuvens tomam todo o horizonte com um ar de ameaça [...].
Um poente desgrenhado, com nuvens negras lá no fundo, e uma luz sinistra. Ventania. Estratos monstruosos correm do norte. Sobre o mar fica um laivo esquecido que bóia nas águas - e não quer morrer..."
Raul Brandão, Os Pescadores, 2ª ed., 1924
olá vitor,
ResponderEliminarToda a vida pensei que o caos era assim uma coisa transitória, uma espécie de uma passagem para outra coisa qualquer. Ouvi,muitas vezes, a minha mãe, em épocas de arrumações de casa dizer : " Esta casa está um caos". Um ou dois dias depois, tudo voltava aos sítios primitivos ou a outros novos e o caos era, por assim dizer "arrumável" e a gente tranquilizava- se .Passava-se a uma nova fase.
O teu blogue chama-se "Caos declinável" e, eu suponho que não te referes a esta interpretação de caos, como " confusão antes da criação" mas àquilo que vivemos hoje, que não tem esta dimensão dinâmica e criativa. É a este caos pernicioso, que nos rodeia, que te referes,não é? Esse é que é declinável. No entanto, vejo com muita dificuldade a possibilidade de o declinar.É que este não é dinâmico e muito menos criativo. Agarra-se a nós como lapa, (esta é do Sérgio Godinho), e empobrece-nos,duplamente. E nós vamos para onde? Juntamo-nos à diáspora das novas gerações? Nós já passámos o prazo de validade. Temos alguma saída? Esse caos, que tu gostarias de declinar e eu também, está instalado há muito tempo,contrariamente, ao sonho que tivemos há quase 37 anos, e por mais que a gente o tente declinar, ele está aí em todo o lado, mesmo em lugares, onde supunhamos que ele não caberia.Gi
Gi,
ResponderEliminarDe facto, há o caos necessário para a criação de uma nova ordem, presente em muitos rituais do inconsciente colectivo dos povos. Já no que diz respeito ao nosso caos doméstico parece eternizar-se no tempo, embora sob formas bem diversas. Talvez seja o nosso modo singular de ser. Quanto ao "caos declinável" trata-se obviamente de um paradoxo, pois o caos é um quase indizível que apenas ganha expressão no modo como cada um dos nossos corpos o pode pressentir. Para além deste palavreado pouco esclarecedor, não posso deixar de elogiar a tua excelente vocação para a expressão escrita. Deves continuar. É a prática quotidiana que a pode transformar numa forma criativa. Estás no bom caminho.
Muito, muito obrigada,Vitor, pelas tuas palavras. São, sobretudo, encorajadoras. Descobri, recentemente, que o meu lado soalheiro gosta de se entregar a pequenos exercícios de escrita.Vamos ver...
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